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No terceiro trimestre de 2017, o Facebook tinha 2,07 bilhões de usuários ativos mensais, pelo mundo afora, excluindo aqueles que possuem conta mas não estavam ativos, na altura da estimativa. A esta rede social soma-se o Instagram, o Twitter, o Google+, o LinkedIn, entre outras. O crescimento exponencial das redes sociais levou a um pressuposto que estaríamos vivendo na era da comunicação, em que conectamos virtualmente com um maior número de pessoas e, por conseguinte, os habitantes da terra dominam as habilidades da inteligência social. Todavia, contrariamente, números e factos apontam que nunca fomos tão solitários, isolados e narcisistas a viver em sociedade como agora (Campaign to End Loneliness, 2017).

Nos EUA, em 1940, apenas 10% dos habitantes residiam sozinhos com as suas quatro paredes. Em 2012, o percentual havia mais do que triplicado, representando cerca de 34%, em que apenas um ser humano residia numa habitação (Population Reference Bureau, September 2012). Claro, se pensarmos em um conjunto de alterações nessas sete décadas, poderíamos dizer que o crescimento percentual não é assustador, pois está diretamente relacionado com alterações da estrutura familiar, o apoio social do governo, mudança no rendimento per capita, mudança das estruturas profissionais, da agricultura e da economia. Contudo, outros percentuais nos fazem reféns da solidão.

Cerca de 63% dos adultos viúvos, ou que estão separados, ou divorciados, com 52 anos ou mais, relataram terem-se sentido sozinhos muitas vezes ou por um pedaço de tempo (Beaumont, 2013). De 1 em cada 3 pessoas, com 75 anos ou mais, afirmam que os sentimentos de solidão estão fora do seu controle, segundo o inquérito realizado pela Independent Age. Sentir-se solitário, na nossa história social, não só afeta os adultos de “meia-idade” e idosos. Um estudo, levado a cabo pela Action for Children, mostrou que 43% dos jovens, com idades compreendidas entre 17 a 25 anos, usaram o seu serviço devido a problemas com a solidão e, que desse mesmo grupo, apenas menos da metade dizia que se sentia amado (Jo Cox Loneliness). Mais de 9 milhões de pessoas no Reino Unido, na faixa etária adulta (a partir dos 18 anos), se sentem sempre ou muitas vezes solitárias, de acordo a pesquisa da Co-op e da British Red Cross.

Será que as redes sociais são responsáveis pela solidão?

Querer estar sozinho por gostar da sua própria companhia é muito bom. Para escrever, eu gosto de estar sozinha. Há momentos em que queremos refletir sobre questões importantes da nossa vida, e nos recolhemos como um lagarto nas nossas crisálidas, metemo-nos connosco mesmos. Mas estar sozinho saudavelmente não é o mesmo que sentir-se solitário, em solidão. De facto, não estamos apenas a viver sozinhos, estamos a viver isolados entre muitas pessoas. Estamos nos sentindo sós, como grãos de areia num vasto deserto, entre uma multidão na rua e no mundo virtual. Sentimo-nos sozinhos quando estamos juntos, sentimo-nos sozinhos contra os outros, e os outros contra nós, sentimo-nos sozinhos. E é esse sentimento de estar só entre as gentes, que nos faz sentir miseráveis. Pessoas que vivem sozinhas, sentem-se só, ou são isoladas socialmente, estão sob o risco de morte prematura em cerca de 30%, de acordo a um estudo levado a cabo com mais de 3,4 milhões de participantes (NHS, 2015). A solidão e o isolamento nos conduzem à fumar mais, ao declínio memória e cognitivo em geral, à exercitar menos, à tornarmo-nos obesos, à maior probabilidade de insuficiência cardíaca, e à depressão. E, a depressão é considerada a segunda principal causa de incapacidade em todo o mundo, e um importante contribuinte para o ônus do suicídio e doença isquémica do coração. Globalmente mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, um número sem precedentes segundo o relatório da OMS (organização mundial de saúde). Mais assustador é o aumento percentual em 18% de pessoas depressivas, em 10 anos (de 2005 a 2015), coincidentemente, os anos de expansão das redes sociais. Mas então, o que está a ocorrer? Será que as redes sociais são responsáveis pela solidão?

O século XX foi um século de virada em termos de meios de comunicação em massa. A partir dos anos 20, gradualmente, o mundo começou a se tornar mais pequeno. A rádio começou a entreter as pessoas, e a levar as notícias de outros países para a casa do ouvinte. Seguidamente, a televisão começa a aparecer em praça pública, segue para os lares e, nas décadas 50 e 60, tornam-se aparelhos domésticos. Agora, o mundo se tornava numa aldeia global. O som, que antes nos deixava espaço para a imaginação, veio acompanhado com a imagem nua e crua. Este animal domesticado, o aparelho televisor, juntamente com a expansão suburbana, a desintegração da família tradicional, espalhou-se pelos lares. Hoje, dois quintos de todas as pessoas mais velhas no Reino Unido (cerca de 3,9 milhões) dizem que a televisão é a sua principal companhia (Age UK, 2014). Deixamos de interagir gradualmente com os vizinhos, com os donos das mercearias, com mais pessoas em casa, as substituindo pelos shoppings e hipermercados, o trânsito no carro, ou desfrutando a solidão em frente de uma televisão em casa. Perante este cenário e com o objetivo de manter os laços sociais, em 2004, apareceram as redes sociais, como o Orkut e o Facebook, com o lema – iremos unir pessoas, e eis que cada um poderia, agora, fazer novas amizades virtuais, não perder amigos, ou até encontrar o seu novo amor. No obstante, em uma década, as redes sociais parecem estar a disseminar mais solidão que haviam projetado conquistar. Essa espada de dois gumes (que é a rede social), segundo Kim Leadbeater, “é brilhante, pois pode ajudar a conectar as pessoas, mas não é um substituto para o contato humano. É fantástica de muitas maneiras, mas não substitui sentar-se com um ser humano “(the Guardian, Dec 2017). Mas o tem feito.

As redes sociais estão a nos levar num trilho de perdas sociais sem volta?

As últimas pesquisas apontam que uma forte correlação entre o uso da tecnologia pelos iGen (nascidos entre meados dos anos 1990 e a década 2000, e posterior) e o aumento dos níveis de ansiedade, depressão, menos horas dormidas, moldam a saúde mental dos jovens (Jean Twenge, 2017). A geração iGen é a primeira geração a passar a sua adolescência na era do smartphone.

É a primeira a ter o smartphone como seu companheiro e confessor inseparável, e a gastar menos tempo fisicamente com seus amigos. Não são necessários gráficos para ver essa realidade. Eu própria a observo no meu dia-a-dia. Nos últimos anos verifiquei um aumento de jovens com problemas de ansiedade nos meus cursos, ou que me procuram para sessões humanistic guidance, do que ocorria no passado. Toda a semana quando vou ao ginásio, observo jovens em modo supino, agarrados aos seus pesos especiais – smartphones – enquanto os pesos ou barras estão a decorar o local. Enquanto eu faço uma, duas, três séries, eles estão atentos aos últimos posts dos seus amigos virtuais, no conto de fadas que se vai apresentando no feed de notícias, enquanto ignoram totalmente que ao lado, alguém está a fazer umas abdominais.

Nesta "happy society" você tem de mostrar que é realizado, feliz e uma pessoa de sucesso, para ser recompensado socialmente com likes. E é nesta infelicidade que nos faz feliz, que nos movemos.

KARINA M. KIMMIG

Curiosamente, nos EUA, mudanças abruptas nos comportamentos e estados emocionais dos adolescentes iGen foram identificadas em 2012 (com o aumento da compra de smartphones), algo somente comparável à geração da década de 30, da Grande Depressão (Jean Twenge, 2017). Com as enormes dificuldades económicas nos anos 30, crianças e adolescentes cresceram em um ambiente onde os seus pais, provedores da família, se sentiam falhados pelo facto de não poderem suprir financeiramente a família. Sentindo-se inadequados, os homens refugiavam-se na bebida, tornando-se emocionalmente distantes e indiferentes. Por estarem desempregados, logo mais tempo em casa, as brigas entre o casal eram mais frequentes. Consequentemente foi registada queda nas taxas de natalidade e de casamento, aumento da taxa do abandono do lar pelo homem, bem como o aumento em 50% do número de crianças que entraram para instituições de acolhimento entre 1929 a 1931 (Encyclopedia of the Great Depression, 2004). Se os adolescentes que possuem um smartphone, não estão a passar as dificuldades similares de sobrevivência daqueles dos anos 30, então, o que fica evidente e comum nas duas gerações, é a fragilidade dos laços afetivos, o desmoronamento da estabilidade das relações sociais e familiares, e a distância e frieza emocional dentro das relações. E isso tem um impacto muito sério na dimensão mental, emocional e social não só dessa geração (iGen), como para todos nós.

Afinal, Somos Incompetentes Sociais?

A contrastar com essa realidade, recordo-me, anos atrás, ver um grupo de pessoas, na terceira idade, na desfolha e debulha à moda antiga do milho, realizada em Murtosa, Aveiro, na região centro de Portugal. Ali estavam pessoas com um passado composto de árduo trabalho físico nos campos, que viveram numa ditadura, com limitações financeiras, mas com competências sociais enormes que se foram perdendo na nossa atual sociedade. Pude observar a alegria e a transparência nas relações entre eles, a contrastar com a seriedade inexpressiva de jovens, adolescentes e adultos focados nos seus smartphones. Eles (os da terceira idade) olhavam, sorriam, se chateavam e mandavam calar um ao outro, olhos nos olhos, contrariamente, a um grupo de jovens sentados na mesa de um restaurante, cada um na sua bolha individual com o seu precioso telemóvel, até a chegada da pizza. Eles cantavam, contavam piadas, dançavam e teatralizavam, enquanto trabalhavam. Cresceram num tempo em que as competências sociais inerentes eram expressas e necessárias. Sem cooperarem, nenhum deles sobreviveria muito tempo. Não se pode cultivar campos, colher e fazer a farinha de milho sem a ajuda valiosa do outro. Não se pisava na uva solitariamente, mas sim, em grupo. O tempo para a solidão era precário, pois as atividades diárias exigiam convivência. E essa dependência de um para com o outro, para um bem comum, os fizeram aprender a desenvolver a habilidade de lidar com os defeitos, as virtudes e os vícios do outro, e também apoiar o outro nas vicissitudes da vida, na tristeza, na dor, ao invés de se desconectarem, bloquearem o outro, ou virar um “hater” de corpo ausente. Eles se viam e se vêem diariamente, não são invisíveis e nem estão estáticos em fotos com filtros. Também não aceitariam desafio das redes sociais, ‘Tide Pod Challenge’, em postar vídeos ou fotos a comer bolas de detergente, ocupando os centros médicos com problemas de intoxicação (Zap.aeiou notícias, 2018) pois estariam ocupados com muitas das tarefas diárias, e uma delas era fabricar o próprio sabão, algo que dá muito trabalho. Eles em comunhão, depois da debulha do milho, também comiam, não bolas de detergente, mas os produtos finais do trabalho de suas mãos, como pão, queijo e presunto. Também o convívio, não deixava que passasse despercebido problemas graves em famílias, ou de até intervirem com veemência. Hoje, a vitrina das redes sociais dificulta esse acesso. A conhecida ‘família perfeita’ de “David-Louise Turpin”, no facebook, que partilhavam frequentemente várias fotografias dos filhos e deles próprios, vestidos com roupas iguais, sorridentes e felizes, na Disney World, em Las Vegas, etc, não passou de um casal que acorrentava os 13 filhos às camas, que subnutridos aparentavam idades inferiores as idades reais (observador notícias, 2018).

Porquê esta família parecia perfeita?

Porque publicava felicidade. A procura nas redes socais pela felicidade, leva a querer mostrar esse estado a todo o custo. Mais feliz, mais cliques! Mas a felicidade que se consome avidamente nas redes sociais tem o seu preço elevado. O inquérito Monitoring the Future recolheu dados desde 1975 até a atualidade. Os resultados apontam que os adolescentes que passam mais tempo, do que a média, nas atividades da tela, como mídias sociais, mensagens de texto e a navegar na web, são mais propensos a ser infelizes do que aqueles que passam mais tempo do que a média, longe delas. Aqueles que gastam uma quantidade de tempo acima da média com seus amigos em pessoa, são 20 por cento menos propensos a dizer que são infelizes, do que aqueles que ficam por um período abaixo da média. (David Pilcher, 2017) Outro estudo a estudantes universitários, durante 2 semanas, mostrou que quanto mais eles usaram o Facebook, mais infelizes se sentiram (David Pilcher, 2017). Não é surpresa esse resultado. Se num dia já se sente mal, porque na vida há dias que não estamos bem connosco mesmo por diversas razões, e conecta-se numa rede social, ainda ficará pior. O desfile de personalidades que estão a meditar no Nepal, o Casal que está sempre feliz, as férias em Koh Tao, na Thailândia, aquela que está sempre maquiada, sorridente e bem vestida, enquanto eu estou desgrenhada, com olheiras e com problemas de burocracia nas finanças, me vão fazer não só sentir mal, mas ter a certeza que estou literalmente na m🤬 ! Ligo a televisão, ouço a rádio, ou vejo uma publicidade, as imagens veiculadas com receitas para ser feliz são infinitas, desde a publicidade de carro, de álcool, de creme, ou de detergente. Seja qual for o contexto, tem de ser feliz. Nesse consumo passivo, também eu tenho que ter em atenção mostrar que sou realizada, feliz e uma pessoa de sucesso, para ser recompensada socialmente com likes. E, é nesta Happy society, nesta infelicidade que nos faz feliz que nos movemos atualmente. Fingir ser feliz o tempo todo, cansa. A equipa de pesquisadores liderados por Iris Mauss, da Universidade de Denver, publicou um estudo sobre “os efeitos paradoxais da valorização da felicidade.” Valorizar a felicidade não está necessariamente ligado a uma maior felicidade. Os participantes que valorizaram a felicidade tendiam a ficar menos satisfeitos com a vida, relatarem menor bem-estar psicológico e maiores níveis de sintomas de depressão. Contudo, para quem passa o tempo com as pessoas que ama, pratica atividades de que gosta, colhe a felicidade como resultado, não pela procura de ser feliz, mas usando o tempo com quem aprecia e a fazer o que dá prazer. (Denver, 2011) Prisioneiros da virtualidade social, temos uma certeza – um de nós em cada 3 pessoas desenvolverá depressão, segundo a organização mundial da saúde. Temos muita informação, tecnologia, liberdade, mas também solidão, individualismo, imediatismo, descompromisso, insegurança. A liquidez da sociedade se dá pela sua incapacidade de tomar forma fixa. Ela se transforma diariamente, toma as formas que o mercado a obriga tomar”, como referiu o sociólogo Zygmunt Bauman, relativamente a nossa atual modernidade, muito similar aquela vivida nos anos 30. A instabilidade do mercado, em que não há segurança e nem confiança no presente e nem no futuro, nem no próprio, e nem nas relações sociais. Mais solitários com um aparelho em mãos, conectados com seres de diferentes continentes, num mundo global, sem conhecer o vizinho da porta ao lado, mais inseguros numa rede virtual aparentemente segura, mais infelizes querendo ser felizes. Esse é a dicotomia que vivemos. Uma realidade virtual e uma realidade material. Ainda há tempo para mudar o trilho. Não seja a próxima vítima.
Referências: Campaign to end loneliness – Disponível online, Dezembro 2017. Jacobsen, Linda A., Mather Mark, Dupuis, Genevieve. Household Change in the United States, Population Reference Bureau, September 2012. The Jo Cox Comission on Loneliness – Disponível online, Dezembro 2017. NHS, “Loneliness increases risk of premature death” – Disponível online, 13 de Março de 2015. World Health Organization – Disponível online, Janeiro 2018. Agenda for Later Life Report, Age UK. The Guardian, “Loneliness heightened by social media, Jo Cox’s sister says” – Disponível online, 15 de Dezembro de 2017. Twenge, Jean M. iGen: Why Today’s Super-Connected Kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy–and Completely Unprepared for Adulthood–and What That Means for the Rest of Us, 2017 Bryson, Dennis, Family and Home, impact of the great depression on, Encyclopedia of the Great Depression, 2004 – Disponível online ZAP aeiou, Notícias, “Comer cápsulas de detergente é a nova “moda” dos adolescentes (e pode ser fatal)” – Disponível online,16 de Janeiro de 2018. Observador Notícias, “Viagens à Disneyland, fotos no Facebook e uma ‘família perfeita’. A história do casal que acorrentou os 13 filhos” – Disponível online, 16 de Janeiro de 2018 Bauman, Zygmunt. Cegueira Moral, Rio de Janeiro, Zahar, 2013. Pilcher, David, FreeportPress,“What’s Happening to Our Teens? A Troubling Wake-up Call – Disponível online, 09 de Agosto de 2017. Gillen, Brenda, Academics and Research/News “Seeking happiness could make individuals depressed” – Disponível online, 08 de Agosto de 2011.

Artigo original publicado em Janeiro de 2018.

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